IV - carta a um Amigo







caríssimo José!


certo é que “vida nova num mesmo olhar” é mais um lugar comum e como tal ,merece-me pouca importância ou mesmo nenhuma ,atendendo ao facto de não gostar de lugares comuns .mas ,não são os meus gostos pessoais que pautarão esta carta ,mas ,antes ,algumas reflexões que tenho vindo a fazer ao longo dos tempos ,e ,muito particularmente ,dos últimos anos
.observo ,no que aos partidos políticos respeita ,um afastamento cada vez maior das pessoas perante os mesmos .várias são as razões que podem explicá-lo ,desde um desinteresse cada vez maior pela “res publica” ,a consciência da inevitabililidade – tão presente no nosso pensar colectivo - ,o deixar correr ,o desacreditar cada vez mais nos nossos políticos ,o desencanto ,a necessidade de chegar cada vez mais fundo ,como se ,hoje ,fosse possível chegar ainda mais fundo ,para então sim ,tentar novas políticas e novos rumos .a partir do momento em que ,cada um de nós interiorizou o estar em sociedade e o viver em democracia participativa ,diluiu-se o papel do Eleito e do Eleitor – prática contraditória – que pouco agrada aos diversos partidos políticos
.a militância ,porém ,não se faz ( ou não deve ser feita ) com amargura ,mesmo quando os agentes têm razão ,porque a mesma acarreta ,para quem tem a consciência tranquila ,afastamento em vez de aproximação
.além disso ,caríssimo amigo ,parece-me ,face à minha experiência e do muito que alguns têm dado em prol do social ,sem nunca terem pedido nada em troca - os verdadeiros idealistas - que na presença da corrupção ,da incompetência ,do vazio de ideias e ideais ,dos oportunismos e dos pessoalismos exacerbados que vão presenciando ,diariamente ,se distanciam ,quais observadores dum mundo em decadência .que é feito das Mulheres e Homens deste País que ,sem ambições de poder ,ao mesmo têm dedicado ,através do seu estar social ,a sua experiência e saber? conscientes da presente involução da democracia ,afastam-se ,porque as suas ambições ,perante o desalento ,passam a ser diferentes .e tornam-se expectantes
.assim sendo ,julgo ,face às minhas reflexões ,que outros , os mais novos ,em termos de idade e envolvência política ,deverão ser os novos protagonistas .quero vê-los dando provas, num País rejuvenescido ,em domínios que decidem e decidirão o nosso futuro  ,mormente ,no domínio da Saúde – onde estão os cérebros? – na área da Segurança Social – não há crânios para tais abordagens? – na Educação e Justiça – então, meus amigos?
a Cultura ,essa filha pródiga ,como nunca deu ,nem dará votos ,sempre foi vista ,lamentavelmente ,como a parente pobre ,na qual nunca valeu a pena investir ,como se a mesma ,a par da Educação ,não fosse o barómetro da sociedade
.mas ,prosseguir com este desabafo ,meu amigo ,levar-nos-ia muito longe ,e o meu amigo ,como eu ,sabe-lo…….
assim ,prefiro observar .e ,agora mais do que nunca quero fazê-lo ,porque ,segundo o que me rodeia ,vejo ,ouço dizer e leio ,pior do que estivemos nos últimos cinco anos que precederam o actual ,é impossível
.fico-me pela observação atenta e aguardo ,sem ironia ,o momento próprio para intervir
.e ,o meu Amigo ,qual o seu papel neste desenrolar da História sem história?
.aguardo a sua resposta
,com a amizade ,a cumplicidade e a sinceridade de sempre




Gabriela Rocha Martins
,Novembro de 2016