caríssimo José!
certo é que “vida nova num mesmo olhar” é mais um
lugar comum e como tal ,merece-me pouca importância ou mesmo nenhuma ,atendendo
ao facto de não gostar de lugares comuns .mas ,não são os meus gostos pessoais
que pautarão esta carta ,mas ,antes ,algumas reflexões que tenho vindo a fazer
ao longo dos tempos ,e ,muito particularmente ,dos últimos anos
.observo ,no que aos partidos políticos respeita ,um
afastamento cada vez maior das pessoas perante os mesmos .várias são as razões
que podem explicá-lo ,desde um desinteresse cada vez maior pela “res publica”
,a consciência da inevitabililidade – tão presente no nosso pensar colectivo -
,o deixar correr ,o desacreditar cada vez mais nos nossos políticos ,o
desencanto ,a necessidade de chegar cada vez mais fundo ,como se ,hoje ,fosse
possível chegar ainda mais fundo ,para então sim ,tentar novas políticas e
novos rumos .a partir do momento em que ,cada um de nós interiorizou o estar em
sociedade e o viver em democracia participativa ,diluiu-se o papel do Eleito e
do Eleitor – prática contraditória – que pouco agrada aos diversos partidos
políticos
.a militância ,porém ,não se faz ( ou não deve ser
feita ) com amargura ,mesmo quando os agentes têm razão ,porque a mesma
acarreta ,para quem tem a consciência tranquila ,afastamento em vez de
aproximação
.além disso ,caríssimo amigo ,parece-me ,face à minha
experiência e do muito que alguns têm dado em prol do social ,sem nunca terem
pedido nada em troca - os verdadeiros idealistas - que na presença da corrupção
,da incompetência ,do vazio de ideias e ideais ,dos oportunismos e dos
pessoalismos exacerbados que vão presenciando ,diariamente ,se distanciam
,quais observadores dum mundo em decadência .que é feito das Mulheres e Homens
deste País que ,sem ambições de poder ,ao mesmo têm dedicado ,através do seu
estar social ,a sua experiência e saber? conscientes da presente involução da
democracia ,afastam-se ,porque as suas ambições ,perante o desalento ,passam a
ser diferentes .e tornam-se expectantes
.assim sendo ,julgo ,face às minhas reflexões ,que
outros , os mais novos ,em termos de idade e envolvência política ,deverão ser
os novos protagonistas .quero vê-los dando provas, num País rejuvenescido ,em
domínios que decidem e decidirão o nosso futuro
,mormente ,no domínio da Saúde – onde estão os cérebros? – na área da
Segurança Social – não há crânios para tais abordagens? – na Educação e Justiça
– então, meus amigos?
a Cultura ,essa filha pródiga ,como nunca deu ,nem
dará votos ,sempre foi vista ,lamentavelmente ,como a parente pobre ,na qual
nunca valeu a pena investir ,como se a mesma ,a par da Educação ,não fosse o
barómetro da sociedade
.mas ,prosseguir com este desabafo ,meu amigo
,levar-nos-ia muito longe ,e o meu amigo ,como eu ,sabe-lo…….
assim ,prefiro observar .e ,agora mais do que nunca
quero fazê-lo ,porque ,segundo o que me rodeia ,vejo ,ouço dizer e leio ,pior
do que estivemos nos últimos cinco anos que precederam o actual ,é impossível
.fico-me pela observação atenta e aguardo ,sem ironia
,o momento próprio para intervir
.e ,o meu Amigo ,qual o seu papel neste desenrolar da
História sem história?
.aguardo a sua resposta
,com a amizade ,a cumplicidade e a sinceridade de
sempre
Gabriela Rocha Martins
,Novembro de 2016